terça-feira, 3 de julho de 2012

PAISAGENS DO RELENTO - "CRONIQUETAS" - I

A noite é um sentimento de desespêro na Lua da tranquilidade. Sentado em um dos bancos da Estação do Oriente ia bebendo, como se fossem pingos de chuva, o vinho nocturno da latitude zero. Os pensamentos iam e vinham, comboios de partidas festivas e de chegadas inconscientes. Metamorfoses de viagens longínquas, metáforas de enredos femininos que se desnovelam diante dos meus olhos sangrentos. A bebedeira é o consolo do desconsolo, a fuga para oriente neste comboio de palavras inocentes. Para que servem os sonhos se o corpo se arrasta pelos carris de uma despedida, envoltos pelas brumas do silêncio? Que lágrimas serão estas que se divertem no meu rosto? Serão o vinho que bebo, ou serão o cacimbo de uma saudade que não consigo decifrar. A vida e o seu código de segredos. Levanto o corpo obeso. A magreza engana. Dispo esta paisagem nocturna e enveredo pelo labirinto das luzes que, docilmente, me acendem o rosto frio da cidade. São horas da covardia fugitiva.   
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, em 03 de Julho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 15H03 e as 15H25 do dia 03 de Julho de 2012.

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