quarta-feira, 10 de abril de 2013

PASTAGENS DO RELENTO - XXI - DOÇURA

Esta doçura que me invade,
esses lábios de futuro
que passado não serão,
registam nos meus cabelos de tempo
esta vaga sensação de edílios
que se pressentem agnósticos
na ponte das margens inesperadas.
Viagem de emulsões,
forja de pulsações,
onde o ferreiro digital
forja a pressão táctil
que o corpo fecunda
para além de tudo o que é imortal.
Etérea, a doçura prevalece.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 10 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H55 e as 15H05.
Postado, no blogue, em 10 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 16H01 e as 16H06.

terça-feira, 9 de abril de 2013

PASTAGENS DO RELENTO - XX - ERRÁTICO

Errático,
mariposa febril,
coração flutuante,
poiso do tempo
em sulcos de águas doces,
entre o sal do fogo
e o poema do canto
com que a boca marsupial
fustiga a mariposa
que, frágil,
vagabundeia felina
pelo coração das trevas,
noite que sou,
errático como vou.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 09 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H39 e as 14H54.
Postado, no blogue, em 09 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 16H17 e as 16H21.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

PASTAGENS DO RELENTO - XIX - O RIBEIRO DO OLHAR

No ribeiro do olhar
um caudal de tumultos serenos,
espelho baço
de reflexos itálicos,
respostas frondosas
sobre águas de dúvidas,
perguntas sem inocências,
palavras que se misturam
na natureza do espanto
com que o olhar descobre
as imprudências do fado
perdido na foz do silêncio,
um abraço letal
que vivifica o ritmo
da sua paisagem natural,
oferecendo ao olhar mortiço
a lonjura da distância,
o revivalismo da infância
onde mora o casebre mítico
da esperança que não se habita.
O ribeiro permanece,
o olhar tudo esquece.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 04 de Abril de 2013, escrito na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H41 e as 14H08.
Postado, no blogue, em 04 de Abril de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H14 e as 14h20.

quinta-feira, 28 de março de 2013

PASTAGENS DO RELENTO - XVIII - ABSURDO E ABSTRACTO

Há este fogo que arde,
este gelo, abstracto,
um tudo nada absurdo
que baila
pela noite dentro
e, eu, aquecido
e gelado
respondo a perguntas
do vento,
coisas sem importância,
sem sentido,
bailados de luz,
frigidez corpórea.
O que é a vida que morre,
o que é a morte que vive,
distâncias inúteis
em viagens que o segredo
segreda por amor
ao amor que não se tem.
Este poisar ardente,
esta frieza pulsante
saltam da morte,
invadem a vida
e perguntam ao vento
que caminho,
que destino,
este, o de não ir,
absurdo e abstracto.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, directamente, no blogue, em 28 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H11 e as 15h33.

quarta-feira, 27 de março de 2013

PASTAGENS DO RELENTO - XVII - PÁGINAS DE VIDA

No lago das páginas,
a caneta de sangue
escreve o infinito
da verdade que paira
sobre a água complexa
do mistério inocente.
Bebo o sentido pleno
das sílabas expostas
em quadros de sentidos
e, sem reticências, respiro
a pureza das lâminas
que me rasgam por dentro.
O sangue brota,
lago de palavras,
páginas de vida.
Tudo para que a origem
seja o fim de nada.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, directamente, no blogue, em 27 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H25 e as 13h37.

terça-feira, 26 de março de 2013

PASTAGENS DO RELENTO - XVI - VIAGEM

Estranha viagem
ao carimbo da ossatura
que me possui,
vaga etérea
que se esfuma no tabaco
que fumo
e que, em argolas de futuro,
dissipam sorrisos,
descobrem ilusões,
em cada cigarro imaginado
nesta estátua de ver
o silêncio que canta,
a voz que emudece
e o abraço da morte
à vida que renasce
por entre tertúlias
de palavras fartas,
de pautas que escrevo
em nome dos sons
em que o fumo viaja.
Carimbado estou,
esqueleto de ser.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, directamente, no blogue, em 26 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H07 e as 15H23.

segunda-feira, 25 de março de 2013

PASTAGENS DO RELENTO - XV - DEVAGAR VAGUEIO

Bebo o sal amargo da vida
por esse copo de sargaço,
relance estático
de uma composição sem alfabeto,
sonoridade cosmopolita
de um diafragma digital,
objetiva radioativa
que observa, sem observar,
o sentido heroico de ser
a hipérbole de uma ideia,
essa distorção angular,
esse percalço celular
do disfarce que se estimula
para se conceber o roubo
da verdade que se recusa
ao quotidiano da respiração,
poluído pela densidade visceral
de um grito que tudo excede,
até a morte programada
pela duplicidade autoral
do pedantismo efémero.
O copo esgotou a memória,
o líquido, este sangue eremita,
edita cada rastro diário
nos pulsos secretos de um suicídio involuntário.
Devagar, vagueio,
vagabundo de todos os lastros alfabetizados.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, diretamente, no blogue, em 25 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H02 e as 15h31.

quarta-feira, 20 de março de 2013

PASTAGENS DO RELENTO - XIV - CREPÚSCULO SINGULAR

Nesta viagem  tumular de razões irrisórias
a busca contínua de ser
um intervalo de vida,
a morte que descende de um encanto
nos braços de um sonho
que se revela, sem desespero,
longe de uma monotonia agreste,
essa inscrição da lápide coerente
onde, um tempo sem ilusões,
descreve os simples degraus
de um passado que viveu o futuro
sem que o seu edifício verbal
fosse a nespreira de um crepúsculo singular.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e Postado, diretamente, no blogue, em 20 De Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 13H12 e as 13H29.

quinta-feira, 14 de março de 2013

PASTAGENS DO RELENTO - XIII - DISPERSO

Pego na caneta prateada
com relutância
escrevo palavras sem sentido
com o sentido que elas devem ter.
Rasgo o luto profundo
da distância
que se escapa entre os dedos da vida
para se encontrar com os limites
da infância
e devolver à arquitectura dos casulos
o embrião da refinaria
que desperdiça a morte
e engana a flor do tempo
com a fragrância
dos olhos que tudo abraçam
por nada verem
à luz da noite que os cansa.
Não sei escrever
porque aprendi a ler sem me ler
entre as linhas que passam
escorreitas
pelo descontrolo das emoções
pelo consolo da sensibilidade
pelas sintonias das fragilidades
perfeitas
nos seus actos de serem o que nada são
ao erguerem no filão dos sentimentos
as amantes que nada amam
nos comboios do peito
carruagens de velhos viajantes
que viajam pelo prazer de descobrirem o descoberto
nas peregrinações ao deserto do pranto
fugitivos
que corrompem o imperfeito
desfilando na ferrugem das vagas
atracando-se a portos decadentes
e elevando-se na espuma do caos
em gruas de tinteiros vazios
cativos
das reticências vulgares
e dos polegares que desenham em telas
os medos da sua mudez ruidosa.
Disperso
ameaço a ameaça do silêncio
com as passadas largas da truculência
marcando o ritmo da fluência
e o espartilho das infuências
com a esponja da delicadeza.
Adverso
passo por onde não passarei
se cada passo for um desejo que não desejo
um sopro que não se sopra
sobre as cinzas do cigarro que se apagou
como quem apaga a tristeza
à profundidade da sua natureza.
Preverso
carimbo as sombras do tacto
puxo o gatilho do amor
beijo a falência do sarcasmo
e invento à dose do ciúme
o lastro do escape puído
pelos anúncios da fuga luminosa.
Converso
com os lutos da minha consciência
e sou um deleite
nas vírgulas da escrita
que, pausa a pausa,
reflectem a resistência da febre que me cospe
para o tempo em que nada sou
sabendo o que sei e o que não dou
à claridade da lucidez
que se pergunta sem perguntar
por onde vou e para onde vou
amante
de amores sem mim.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Manuscrito de 10 de Outubro de 2011, escrito na Cinemateca Portuguesa.
Revisto e postado, em 14 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 14H28 e as 15H02.

quinta-feira, 7 de março de 2013

PASTAGENS DO RELENTO - XII - CHUVA DA VIDA

Está um dia de chuva!
Chove e não sei o nome da chuva.
Tudo é esta realidade de não ser a realidade 
que a realidade da sede bebe
em nome do nome que desconhece
ou será o seu nome e o meu, que é simples e real,
o concreto de um desconcerto
em que se conserta o concerto que sou
eu, e a chuva que me acena do outro lado da rua
que não é o meu
porque, eu, chuva que não se ouve, nem se vê
sou a rua do mundo que não é mundo,
é tudo o que sou na rua da chuva
que, em sons de alfabeto mudo,
escreve a realidade do tempo
em que eu não calo a boca sedenta,
nem este corpo de chuva que vagueia
entre a astúcia e a audácia
de ser uma ideia imaginária na realidade da imaginação
ou a imaginação ideária da chuva que é real
mas passageira no estado liquido
desta solidez que a conforta
como se os sorrisos de uma infância perdida
desaguassem na chuva da vida
água que bebo para crescer por dentro
da chuva que, sem idade, me sofre, inteiro,
para alimentar as partículas deste universo
que sou, eu, chuva de tudo o que é mais doce.    
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, directamente, no blogue, em 07 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H52 e as 16H20.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

PASTAGENS DO RELENTO - XI - AMÉLIA

NÃO HÁ PARAPEITOS DE JANELAS NA NEVE DA ALMA
NEM ROTURAS NO ENXAME DA SUA VIDA
ONDE ZUMBEM SEGREDOS DE MEL
E SE ACENDEM CASTIÇAIS DE LUZ AMENA
PARA QUE SE VEJA A GRANDEZA DO AMOR
E PARA QUE OS CIÚMES DESCARNADOS DA SUA INOCÊNCIA
SEJAM ANFÍBIOS NO MAR BRAVIO DO SEU HORIZONTE INFINITO.


NÃO HÁ RUÍNAS CALCINADAS PELO TEMPO
NO SEU CORPO AGRÁRIO   NO SEU OLHAR FUGIDIO
HÁ LENDAS DE EFABULAÇÕES IRRESÍSTIVEIS
QUE REVELAM A LIMPIDEZ DOS SEUS PORTOS INADIÁVEIS
ONDE SE ATRACAM AS VIAGENS INFINDÁVEIS DO CARIMBO QUOTIDIANO
E SE DESCOBREM NAS CAVERNAS HÚMIDAS DA SUA TIMIDEZ
A ARTE RUPESTRE DA SUA DIMENSÃO HUMANA
O DOCE EROTISMO DE UMA PÉROLA SAGRADA.


AS SUAS MEMÓRIAS SÃO UM PRAZER VINÍCOLA
NAS ARCADAS DE UM SUPLEMENTO POÉTICO
ONDE O AURÍFERO SOTAQUE DOS SEUS VINCOS TEATRAIS
CORPORIZAM O FAUSTO SINTÉTICO DOS SEUS PENSAMENTOS MELÓDICOS
ENRAÍZANDO NO PROFUNDO MEDO DA CORAGEM
A FRESCURA IMENSA DE UM DIGITALISMO GRACIOSO
QUE DILUI A UTOPIA DA SUA ROTINA AGRESTE
PARA ILUMINAR O FAROL SAGRADO DE TODOS OS SEUS AFECTOS.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, em 05 de Julho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 15H47 e as 17H35 do dia 05 de Julho de 2012.

terça-feira, 3 de julho de 2012

PASTAGENS DO RELENTO - X - VERTIGEM

SEVERA É A FRONTEIRA
EM QUE O CREPÚSCULO ME OCULTA
EM QUE A SERENATA DO DELEITE
SE ESVAI
PELOS BAIRROS VELHOS DA CIDADE
AO ENCONTRO DO NADA
QUE SE PRODUZ NO TERRITÓRIO DA LINGUAGEM
REFÚGIO
ONDE NADA VIBRA, ONDE TUDO SE PERDE
EM NOME DE UMA CONDIÇÃO HUMANA
QUE NÃO REGISTA MEMÓRIAS
QUE SE DESPEDE DA NOITE
AO ENCONTRO DO DIA AVARENTO
PARA SE ENROSCAR COM O DUCHE DA ILUSÃO
ÁLCOOL QUE ARDE POR DENTRO
E QUEIMA O OLHAR DO MOVIMENTO
COM AS SOBRAS DE UM TEMPÊRO
QUE ME MASTIGAM OS OSSOS DA VIDA
E OS ASSOMBROS DO ESPANTO
NA FÉRTIL CORAGEM DO MEDO.
CRISPADA
É A REVOLTA DOS PASSOS TRÉMULOS
NO SUOR FRESCO DAS AVENIDAS
RUÍDO DO CORAÇÃO
QUE PULSA
A VONTADE INDÓMITA DA SOLIDÃO
EM RASGAR A ASTÚCIA DA BREVIDADE
À ARTE COMPLEXA DO IRRISÓRIO
E RESPIRAR O BARRO
EM QUE MODELO O FÓSFORO
QUE TRANSPIRA A CLARIDADE DA NOITE
E SE INSINUA EM MIM
COMO A INDÓMITA CERTEZA DE FLUIR
AO LONGO DAS MARGENS QUE ME TRANSBORDAM.
FUGA SOU
SENDO FUGITIVO DA RAZÃO QUE HABITO
PARA SER O HÁBITO DA FUGA QUE ME OMITE.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, em 03 de Julho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 17H29 e as 18H18 do dia 03 de Julho de 2012.

PAISAGENS DO RELENTO - "CRONIQUETAS" - I

A noite é um sentimento de desespêro na Lua da tranquilidade. Sentado em um dos bancos da Estação do Oriente ia bebendo, como se fossem pingos de chuva, o vinho nocturno da latitude zero. Os pensamentos iam e vinham, comboios de partidas festivas e de chegadas inconscientes. Metamorfoses de viagens longínquas, metáforas de enredos femininos que se desnovelam diante dos meus olhos sangrentos. A bebedeira é o consolo do desconsolo, a fuga para oriente neste comboio de palavras inocentes. Para que servem os sonhos se o corpo se arrasta pelos carris de uma despedida, envoltos pelas brumas do silêncio? Que lágrimas serão estas que se divertem no meu rosto? Serão o vinho que bebo, ou serão o cacimbo de uma saudade que não consigo decifrar. A vida e o seu código de segredos. Levanto o corpo obeso. A magreza engana. Dispo esta paisagem nocturna e enveredo pelo labirinto das luzes que, docilmente, me acendem o rosto frio da cidade. São horas da covardia fugitiva.   
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, em 03 de Julho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 15H03 e as 15H25 do dia 03 de Julho de 2012.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

PASTAGENS DO RELENTO - IX - CRIANÇAS SEM VOZ

NAS SECURAS DO TEMPO
A AMARGURA É SEDENTA
E OS CALOS HUMANOS
SÃO PEDRAS DE DIAMANTES
QUE RASGAM OS VIDROS DA VIDA.
DO SEU SANGUE
ESPALHADO PELA TERRA
NASCEM CRIANÇAS SEM VOZ,
CORPOS LÍQUIDOS
DA SEDE ESSENCIAL
À MORTE DA MUDEZ
À RAIZ DO GRITO IMORTAL
NA ESPESSURA DA CARNE
QUE EM BEIJOS DE ESTRELAS
CASTIGAM AS ALGEMAS
DO SEU AMOR PROFUNDO
PELA VIAGEM DE TER
A CORAGEM DE SER.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, em 02 de Julho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 16H59 e as 17H12 DO DIA 02 DE jULHO DE 2012.

PASTAGENS DO RELENTO - VIII - NATUREZA MORTA

NADO ENTRE AS RELÍQUIAS DO PASSADO NOVO
E AS ADUELAS FRESCAS DO PASSADO VELHO
PARA QUE O POEMA SEJA A SAÚDE QUE AMANHECE
E O LEITE QUE DESMAMA O SILÊNCIO
COM AS DIETAS GORDAS DA NOITE QUE SE ESQUECE
PARA QUE BROTE O AMOR NOVO
À PELE VELHA QUE EM NADA SE RECONHECE.
É UM PASSO ESTREITO QUE SE ESTREITA DEVAGAR
PARA QUE SE DOMINE A ESSÊNCIA DOS SINÓNIMOS
À LINGUAGEM DOCE DO BOLOR CAMPESTRE
E À DECADÊNCIA DO DESIGN DISFORME
CONSUMINDO A VERSÃO ITÁLICA DO DESPREZO
QUE ARREDONDA A MATEMÁTICA DA INEXISTÊNCIA.
A RESISTÊNCIA QUE SE APARAFUSA À CONSCIÊNCIA DA MADRUGADA
É A DESTREZA INFINITA DAS NOITES SEM SONHOS
ESSA REALIDADE QUE SE TOCA
E QUE SE DESFOCA EM FARDOS DE SEMÂNTICA RETORCIDA
AO APURAR-SE A LUZ VERTIGINOSA DAS FÁBULAS DECANTADAS.
TUDO CANSA
PORQUE O CANSAÇO É O EMBARAÇO DA REALIDADE
QUE MORDE SEM PUDOR
E RABISCA NA PUBLICIDADE DA DISTÂNCIA
A NATUREZA MORTA DO RUBOR
QUE EM VIDA SE PLANTA E QUE NA MORTE NASCE
PORQUE O DESTINO DO FADO ELEGANTE
É A SOMBRA VAGA DE UMA APARÊNCIA.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, em 02 de Julho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 14H21 e as 15H06 do dia 02 de Julho de 2012.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

PASTAGENS DO RELENTO - VII - ESCREVO

ABRO AS JANELAS DO PENSAMENTO
E DEIXO ENTRAR AS IMAGENS QUE ESCREVO.
SÃO ROSAS DE ESPINHOS EM FLOR
RUBRAS DE TANTO SANGRAR
BRANCAS
SE O PERFUME DO CORAÇÃO
PULSAR A VIRGINDADE DO SEU ASFALTO
ESPALHAR O EXOTISMO DA SUA SOLIDÃO
REGISTAR EM ACTOS DE AMOR
AS CONFIDÊNCIAS ETERNAS DA PUREZA.
ESCREVO
E OUÇO O RITMO DESTE TACTEAR AS LETRAS DO DESEJO
QUE EM CONVERSAS DE SILÊNCIO
ENGOLEM O PRAZER DA VIDA
MASTIGANDO A ARTE DA EMOÇÃO
CONFERINDO À COMPLEXIDADE DOS AFECTOS
A TERNURA VIGOROSA DO AMOR EPIDÉRMICO.
ESCREVO
E O ENTARDECER EM QUE ADORMEÇO
ABSORVE O PERFUME DAS ROSAS
E AS PALAVRAS QUE SÃO A FINA FLOR DO DESERTO
ABRINDO-SE AO OÁSIS
QUE AS JANELAS ESCONDEM
NA SIMPLICIDADE DE UMA NOITE AMANTE.  
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, no dia 29 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 17H38 e as 18H02 do dia 29 de Junho de 2012.

PASTAGENS DO RELENTO - VI - PONTE DO ESCURECER

VIVER
NÃO É A PONTE DO ESCURECER.
PASSEIO DE PASSOS LEVES,
VOOS SECRETOS DE ASAS BREVES,
RISOS DE CRIANÇAS ADULTAS
NO POENTE DAS LÁGRIMAS OCULTAS,
SONHOS QUE SE ENTRELAÇAM
ENTRE MARGENS QUE SE ABRAÇAM
SEM QUE OS VENTRES MADUROS
FUJAM POR ENTRE OS SEGUNDOS OBSCUROS,
SEM QUE O RIO, AVES CORREDORAS,
LAVE AS SUAS ÁGUAS EM TINTA RUBRA,
PARA QUE SE CONSERVEM LÍMPIDAS E ACOLHEDORAS
AOS CORPOS DE QUEM O DESCUBRA 
E QUEM NELE QUEIRA MARULHAR
COM AS DORES DO LUAR.
E ACORDAR
COM A PONTE EM OUTRO LUGAR.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, no dia 29 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 14H55 e as 15H21 do dia 29 de Junho de 2012.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

PASTAGENS DO RELENTO - V - UM COPO DE FOZ

ESTE COPO CHEIO DE TI
SAÚDA A MEMÓRIA DO TEU CORPO EM FESTA.
BEBO-O, TRAGO A TRAGO,
COMO SE FOSSE OS PINGOS DO TEU CABELO MOLHADO,
COMO SE CADA SEU GOSTO
FOSSE O DESGOSTO DO TEU ACENO.
AS LÁGRIMAS DO TEU OLHAR
BEBIDAS POR ESTES OLHOS DE GELO,
FOGO QUE NÃO SE VÊ. ARDEM.
SÃO ALCOOL QUE QUEIMA ESTE SILÊNCIO.
BÊBADO DE TI, ENCHARCO O TEMPO,
ESTE TEMPO SEM TI, SEM O GOSTO DESTE COPO VAZIO.
GOTA A GOTA, PERDESTE O SABOR,
MAS EM CADA LÁGRIMA QUE OUÇO À NOITE
VAI UM RIO DE NADA. UM COPO DE FOZ.
UMA FOZ DE TEMPO.
VAZIO. O COPO.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, no dia 28 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 18H01 e as 18H23 do dia 28 de Junho de 2012.

PASTAGENS DO RELENTO - IV - DESÇO A AVENIDA

DESÇO A AVENIDA
E, PASSO A PASSO, O SORRISO DO OLHAR
DESCOBRE OS VESTIDOS DE BETÃO
E A SONORIDADE DAS FOLHAS
QUE SE EMBALAM NAS ÁRVORES.
AS PESSOAS PASSAM. EU PASSO.
AS CONVERSAS ATRAVESSAM-ME O CORPO SILENCIOSO,
SÃO SILHUETAS QUE MERGULHAM NA MEMÓRIA
E ACENDEM RESUMOS DE VIDA
QUE ENCANTAM O TEMPO VIVIDO.
DESÇO A AVENIDA
E OS SEUS SONS SÃO ABRAÇOS QUE ABRAÇO
AO TEMPO QUE ME RECOLHE
E ACOLHE A DESPEDIDA DO SILÊNCIO.
EM SILÊNCIO.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, no dia 28 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 16H31 e as 16H45 do dia 28 de Junho de 2012.

PASTAGENS DO RELENTO - III - SENTIDOS DA SEDE

QUEM ENTORNA OS SENTIDOS DA SEDE
EMBEBEDA AS PALAVRAS COM FOME
E ASSUSTA O MEDO DA VERDADE
COM AS MENTIRAS DO PODER ABSURDO.

QUEM EMPOBRECE AS VAGAS DA IDADE
ILUMINA A FEBRE DA AMARGURA
E REGISTA NA MEMÓRIA DO TÉDIO
O CIGARRO FUMADO SEM PRAZER,

A CERVEJA NOCTURNA DO RECEIO
E A MORTE QUE VIVE SEM ENCANTO
AO NASCER A ESPERANÇA DO FEBO

QUE AFAGA OS LÁBIOS DO DEGREDO
E DESPONTA NA ALMA DO TALENTO
O VINAGRE AFÁVEL DOS AMANTES.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, no dia 28 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, às 15H09, entre as 15H09 e as 16H00 do dia 28 de Junho de 2012.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

PASTAGENS DO RELENTO - II - TERRA ARDENTE

SUFOCO O OLHAR
NA TERRA ARDENTE.
SOFRO COM AS MIRAGENS ABSURDAS.
ENTRAM-ME PELO CORPO,
SACODEM-ME,
ANESTESIAM-ME.
A INÉRCIA É UM MOVIMENTO TENEBROSO,
CALCORREIA A RIGIDEZ FEROZ
EM QUE A AREIA DO DESERTO -
ESTE CORPO -
SOPRA PRIMAVERAS DE ASFALTO,
CAMINHOS DE CIGARRAS E FORMIGAS HUMANAS
QUE ESTIOLAM NA ALEGRIA CONVEXA DO MEDO.
SOBRE MIM
SOBREVOAM PÁSSAROS DE HORAS PASSADAS
EM NUVENS DE NEVE,
ESSA PUREZA DE RIBEIROS GELADOS
QUE CONFEREM ÀS MIRAGENS DO MEDO
AS SINOPSES DAS PALAVRAS QUE, EM RODAGEM,
SUSPENDEM DO SOL
OS FILMES DAS DUNAS SEDUTORAS
QUE ENCANTAM SILÊNCIOS,
QUE ESCONDEM  BANDAS SONORAS
AO CORPO DA ARIDEZ ARENOSA.
ESTE CORPO,
VAGAS POROSAS DE UMA MIRAGEM,
ASSOLA O ABSURDO DO OLHAR
E COLOCA NO INFINITO DA RAZÃO
A PÁLIDA TEMPESTADE DO SANGUE
QUE SOPRA A FRESCA HARMONIA DO SEU TEMPO.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado e escrito, directamente, no blogue, no dia 27 de Junho de 2012, às 16H45 e às 18H18.

PASTAGENS DO RELENTO - I - TEMPO DE VELUDO

EIS O TEMPO DE VELUDO
NAS CAPAS DO ENTRUDO,
A SIMETRIA ACÚSTICA
DE UMA PRECE RÚSTICA,
A CONVERSA ROBUSTA
QUE, NOCTURNA, ASSUSTA
QUEM CIMENTA, AGRESTE,
A REVOLTA QUE VESTE
A FLORESTA QUE NOS VIBRA
COM A RAIVA DA FIBRA
COM O RASGÃO DA SALIVA
E O SABRE QUE NOS CATIVA
EM CELAS DE PENÚRIA,
EM SUADELAS DE FÚRIA 
PARA QUE O SARRO DA VIDA
EVAPORE A CRUA FERIDA
E A TODOS NOS ENFEITE
COM O CIÚME DO DELEITE.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, directamente, no blogue, no dia 27 de Junho de 2012, na Biblioteca Nacional, entre as 14H47 e as 15H12 do dia 27 de Junho de 2012.

terça-feira, 26 de junho de 2012

FLOREADOS - I

NADA É PERFEITO PARA QUE TUDO SEJA IMPERFEITO.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Criado, directamente, no blogue, no dia 26 de Junho de 2012.