segunda-feira, 25 de março de 2013

PASTAGENS DO RELENTO - XV - DEVAGAR VAGUEIO

Bebo o sal amargo da vida
por esse copo de sargaço,
relance estático
de uma composição sem alfabeto,
sonoridade cosmopolita
de um diafragma digital,
objetiva radioativa
que observa, sem observar,
o sentido heroico de ser
a hipérbole de uma ideia,
essa distorção angular,
esse percalço celular
do disfarce que se estimula
para se conceber o roubo
da verdade que se recusa
ao quotidiano da respiração,
poluído pela densidade visceral
de um grito que tudo excede,
até a morte programada
pela duplicidade autoral
do pedantismo efémero.
O copo esgotou a memória,
o líquido, este sangue eremita,
edita cada rastro diário
nos pulsos secretos de um suicídio involuntário.
Devagar, vagueio,
vagabundo de todos os lastros alfabetizados.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Escrito e postado, diretamente, no blogue, em 25 de Março de 2013, na Biblioteca Nacional de Lisboa, entre as 15H02 e as 15h31.

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